
A busca por transparência, integridade e governança corporativa sólida tem levado empresas de todos os portes a repensarem sua cultura e processos internos.
Nesse contexto, a ISO 37301 surge como uma norma internacional que orienta a implementação de sistemas de gestão de compliance eficazes, capazes de prevenir riscos, fortalecer a reputação e garantir conformidade com leis e regulamentos.
Mas, afinal, o que é necessário para colocar essa norma em prática dentro das organizações? Implementar um sistema de gestão de compliance conforme a ISO 37301 é mais do que cumprir exigências: é estruturar um modelo de governança que permeie toda a cultura empresarial.
Este artigo apresenta um roteiro claro, dividido em etapas estratégicas, para desmistificar o processo e apoiar empresas que desejam construir uma base sólida de compliance e integridade corporativa.
Por que um sistema de gestão de compliance é um ativo estratégico?
Por muito tempo, o compliance foi visto como um conjunto de regras burocráticas voltadas apenas para a prevenção de riscos legais. Hoje, o cenário é completamente diferente. A conformidade se tornou um diferencial competitivo e um ativo estratégico para organizações que buscam crescimento sustentável.
A ISO 37301 traz essa visão moderna ao propor que o sistema de gestão de compliance seja integrado à estratégia e à cultura organizacional. Quando aplicado dessa forma, o compliance contribui diretamente para:
- Reforçar a confiança de investidores, parceiros e clientes;
- Reduzir custos decorrentes de sanções, litígios e retrabalho;
- Promover uma cultura ética, valorizando comportamentos alinhados aos princípios corporativos;
- Aumentar a eficiência operacional, com processos mais claros e responsabilidades bem definidas.
Empresas que adotam um sistema de gestão de compliance conforme a ISO 37301 deixam de atuar apenas de forma reativa, respondendo a irregularidades, e passam a trabalhar proativamente, antecipando riscos e oportunidades.
Além disso, o compliance fortalece o tripé ESG (Environmental, Social and Governance), contribuindo especialmente para a governança corporativa.
Com práticas bem estruturadas, a empresa demonstra compromisso com a ética, a sustentabilidade e a responsabilidade social, fatores decisivos para atrair investidores e talentos.
A base do sistema: definindo o escopo e o papel da liderança
O primeiro passo para implementar um sistema de gestão de compliance é definir o escopo, ou seja, determinar quais áreas, processos e unidades da organização estarão cobertos pelo sistema e quais requisitos legais e normativos serão considerados.
A partir daí, a liderança assume um papel essencial. De acordo com a ISO 37301, a alta direção deve demonstrar comprometimento visível com o programa, garantindo que o compliance seja incorporado aos objetivos estratégicos da empresa.
O engajamento da liderança é o que dá legitimidade ao sistema e inspira a adesão em todos os níveis hierárquicos. Cabe aos líderes:
- Integrar o compliance à cultura organizacional;
- Destinar recursos humanos, tecnológicos e financeiros adequados para sua implementação;
- Estabelecer políticas e valores corporativos claros;
- Promover canais de comunicação e denúncia acessíveis e confiáveis.
Sem o apoio genuíno da alta gestão, o sistema tende a se tornar apenas formal, sem impacto real nas práticas cotidianas da empresa.
Outro elemento central nessa etapa é a análise de riscos. É necessário mapear riscos de conformidade relacionados à legislação, normas setoriais, contratos e políticas internas.
Essa análise deve considerar tanto riscos internos (como fraudes, desvios de conduta e falhas operacionais) quanto externos (mudanças regulatórias, pressões de mercado e fatores sociopolíticos).
Com base nesse diagnóstico, a organização pode priorizar ações, definir controles adequados e estabelecer indicadores de desempenho que permitirão o monitoramento contínuo do sistema.
Da teoria à prática: planejamento e implementação dos controles
Com o escopo definido e o apoio da liderança assegurado, chega o momento de transformar o plano em ação. A fase de planejamento e implementação envolve o desenvolvimento dos controles operacionais e das ferramentas de monitoramento que darão sustentação ao sistema de gestão de compliance.
A norma ISO 37301 propõe uma abordagem baseada no ciclo PDCA (Plan, Do, Check, Act), o que garante um processo de melhoria contínua.
Planejar (Plan)
Nesta etapa, são definidas as políticas, procedimentos e responsabilidades. É aqui que a empresa deve criar ou revisar seu código de conduta, política anticorrupção, política de relacionamento com terceiros e outras diretrizes fundamentais.
Também é o momento de elaborar o plano de comunicação e treinamento, para garantir que todos os colaboradores compreendam suas responsabilidades.
Executar (Do)
É hora de colocar o plano em prática. É necessário, então, capacitar colaboradores, integrar o compliance aos processos de RH, compras e finanças e estabelecer controles internos eficazes.
Ferramentas digitais de automação podem ser grandes aliadas para simplificar tarefas e garantir a rastreabilidade das informações.
Verificar (Check)
A organização deve monitorar periodicamente o desempenho do sistema, utilizando indicadores e auditorias internas. Dessa maneira é possível identificar falhas, avaliar o cumprimento dos requisitos legais e medir a maturidade do programa.
Agir (Act)
Com base nas análises, são implementadas ações corretivas e preventivas para aperfeiçoar continuamente o sistema. Essa etapa fecha o ciclo PDCA e garante que o compliance evolua de forma estruturada.
Implementar controles eficazes também envolve criar mecanismos de detecção e resposta a não conformidades, como canais de denúncia, comitês de ética e planos de ação. O objetivo é fomentar uma cultura de accountability, em que todos se sintam responsáveis pela integridade da organização.
O ciclo de melhoria: monitoramento e auditoria do sistema de gestão
O monitoramento contínuo é o que diferencia um sistema de gestão de compliance robusto de uma política estática. A ISO 37301 estabelece que as organizações devem avaliar periodicamente a eficácia dos controles implementados e o nível de aderência à norma.
As auditorias internas e externas desempenham papel crucial nesse processo. Elas permitem verificar se o sistema está em conformidade com os requisitos da ISO 37301 e se as práticas estão sendo aplicadas corretamente em todas as áreas.
Entre os principais indicadores de monitoramento, destacam-se:
- Taxa de participação em treinamentos de compliance;
- Número de denúncias tratadas e resolvidas;
- Tempo médio de resposta a não conformidades;
- Resultados de auditorias internas;
- Grau de maturidade do programa, medido por avaliações periódicas.
A partir dos resultados, a alta direção deve revisar o sistema e decidir sobre eventuais melhorias. Essa análise de desempenho reforça o ciclo de aprendizado organizacional e assegura que o compliance permaneça vivo, acompanhando as mudanças do ambiente de negócios e das exigências regulatórias.
Além disso, o monitoramento fortalece a transparência da gestão, facilitando a comunicação com stakeholders e autoridades regulatórias. Empresas que demonstram controle e transparência em seus processos reduzem significativamente os riscos de sanções e ganham credibilidade no mercado.
A implementação da ISO 37301 não é apenas um projeto pontual, mas um processo contínuo de amadurecimento organizacional. Trata-se de incorporar a ética e a conformidade como valores centrais, capazes de orientar decisões e fortalecer a reputação da empresa.
Com liderança engajada, análise de riscos consistente, controles bem planejados e monitoramento permanente, o sistema de gestão de compliance se torna um pilar estratégico, garantindo segurança jurídica, confiança e sustentabilidade para o negócio.
Adotar a ISO 37301 é, portanto, um passo decisivo para empresas que desejam se posicionar de forma ética, transparente e inovadora no mercado global. Conte com a Fundação Vanzolini.