O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) escolheu o professor de Medicina Aluísio Segurado como novo reitor da Universidade de São Paulo (USP). Ele foi o mais votado na eleição interna realizada pela instituição na semana passada, mas o governador poderia optar por um dos três nomes que compunham a lista. Tradicionalmente, porém, o candidato com mais votos costuma ser o nomeado.
Segundo o Estadão apurou, a nomeação deve sair no Diário Oficial ainda nesta semana. A lista tríplice foi enviada ao governador pelo atual reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior nesta terça-feira, 2. A posse será em 25 de janeiro e ele ficará no cargo também até janeiro de 2030.
“Acho que a parceria sinérgica da nossa chapa, com muita experiência acadêmica e de gestão, e também com projetos de futuro, trouxe segurança para a comunidade”, disse Segurado ao Estadão, logo depois de saber o resultado das eleições na quinta-feira, 27.
A chapa tem como vice-reitora a ex-diretora da Escola Politécnica Liedi Légi, que foi a primeira mulher a assumir a faculdade de Engenharia. “A comunidade sentiu que havia coerência da proposta.”

Nas eleições, realizada no dia 27 por um colégio eleitoral, Segurado teve 1.270 votos, seguido da ex-diretora da ex-diretora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) Ana Lúcia Duarte Lanna, com 713 votos, e do professor da Escola Politécnica Marcílio Alves, com 340 votos.
Segurado, de 68 anos, foi pró-reitor de graduação da atual gestão do reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior e dirigiu o Instituto Central do Hospital das Clínicas (HC). Infectologista, ele se formou em Medicina pela USP em 1980, ano em que atuou como voluntário em Marabá, no Pará, o que fez ele se interessar por doenças infecciosas.
Na própria USP, fez mestrado e doutorado e seguiu a carreira acadêmica. Entre seus temas de pesquisa, estão a retrovirologia e as pessoas que convivem com HIV – Segurado teve papel importante no enfrentamento da epidemia no Brasil.
Na pandemia de covid-19, ele dirigiu o Instituto Central do Hospital das Clínicas. Para o professor, a mobilização da universidade nesse período, que envolveu médicos e professores, do atendimento a pacientes até a criação de novos respiradores, foi um exemplo claro da importância da USP para o Brasil.
Quais são os desafios de Aluísio Segurado no cargo?
Entre os desafios para o cargo, em entrevista ao Estadão, ele apontou o financiamento. Com a reforma tributária, a partir de 2026, deixará de existir gradualmente o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
Desde 1989, a universidade, a mais importante da América Latina, recebe 5% da arrecadação do tributo do Estado. O orçamento da instituição em 2025 foi de R$ 9,15 bilhões. A partir de agora, os valores e a origem dos recursos terão de ser discutidos pelo novo reitor ou reitora com o governo do Estado.
“A autonomia das universidades estaduais paulistas é única e foi responsável pelo desenvolvimento do ecossistema de ciência e tecnologia do Estado”, disse Segurado, em entrevista ao Estadão. Diferentemente de USP, Unicamp e Unesp, as universidades federais não têm autonomia orçamentária e dependem de repasses (e sofrem com bloqueio de verbas) do Ministério da Educação (MEC).
Além disso, a contratação recente de mais de 900 novos professores para a universidade – movimento inédito na última década, após anos de déficit de profissionais – traz uma oportunidade de inovação no ensino, na visão dele.
Segurado acredita que os novatos podem mais facilmente incorporar tecnologias, adotar metodologias ativas centradas no aluno, promover currículos interdisciplinares e ainda rever as formas de avaliação, principalmente por causa inteligência artificial.
“A tecnologia pode permitir que o estudante entregue um trabalho que não é de sua autoria”, defendeu na entrevista ao Estadão. “Devemos criar formas de avaliação que possam ser aplicadas na sala de aula e na resolução de problemas, que mobilizem o conhecimento de forma mais dinâmica, diferente daquele antigo trabalho que entregávamos no fim do semestre.