Uma faixa colocada pela Atlética da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) em frente à sede da entidade estudantil, em Pinheiros, na zona oeste da capital, gerou protesto, foi acusada de ser racista e acabou rasgada por integrantes do Levante Indígena.
A faixa mostrava uma caveira (símbolo desse curso de Medicina da USP) segurando uma espécie de fuzil apontado para a cabeça de um indígena, que aparece rendido e pisoteado. Ao lado dele também figuram, acuados, um urso e uma serpente. Acima do desenho, lia-se no cartaz: “Pela caveira eu dou a minha vida”.
Acusada de difundir o racismo contra os povos indígenas, a Associação explicou que se trata de uma referência a uma competição esportiva entre cursos de Medicina do Estado de São Paulo, o Intermed, cuja edição deste ano acontece de 6 a 13 de setembro em São Carlos. O curso de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), sediado na capital, é representado por um indígena, enquanto a Faculdade de Medicina da Santa Casa, também na capital, é representada por uma cobra. A Faculdade de Medicina do ABC, situada em Santo André, tem como símbolo um urso. Daí terem escolhido essas figuras para compor o cartaz.

Após pressão de indígenas estudantes de variados cursos da USP, a Atlética entregou a faixa a integrantes do Levante Indígena na USP, que a destruíram.
Em nota divulgada pelas redes sociais, o movimento Levante Indígena da USP repudiou a iniciativa: “Os povos indígenas não podem ser colocados como mascote de nenhuma atlética, muito menos serem retratados da forma que foram na faixa da atlética de Medicina da USP Pinheiros. Trata-se de um ato de racismo anti-indígena, um desenho extremamente violento e que chocou indígenas estudantes do quadrilátero da saúde da USP que se depararam e sentiram toda dor causada por essa imagem, que atualiza os 525 anos de violência colonial”.
A nota continua: “Quando indígenas entram nas universidades, não são devidamente acolhidos. É nesse contexto que entidades não indígenas se apropriam de símbolos e elementos sagrados de forma racista e violenta. (…) Desde que a faixa foi rasgada, indígenas e aliados relatam que estudantes brancos de medicina estão os abordando com deboche e ironia para falar sobre o caso, como se a faixa em si não fosse violência o suficiente”.
“Queremos retratação pública das atléticas envolvidas, e que as atléticas da Saúde da Unifesp parem de utilizar elementos da cultura indígena de forma racista”, conclui a nota do Levante Indígena na USP.
Também em nota, a direção da Faculdade de Medicina da USP informou que, “tão logo tomou conhecimento, na última terça-feira, da faixa colocada em frente à Associação Atlética Acadêmica Oswaldo Cruz (nome oficial da entidade estudantil), solicitou a sua retirada imediata e conversou com os alunos sobre a inadequação da manifestação”. A Faculdade afirmou ainda que “não compactua com manifestações de violência, preconceito, racismo ou qualquer forma de discriminação” e que “reafirma seu compromisso com o respeito, a diversidade e a promoção de um ambiente acadêmico pautado em valores éticos e inclusivos”.
Também em nota, a Atlética da Faculdade de Medicina afirmou que “nunca possuiu intenção de endossar o racismo”. “Foi uma tentativa de representar a rivalidade entre as atléticas, mas faltou com sensibilidade frente a uma causa tão importante no nosso país”, diz a mensagem. “Removemos a faixa, a entregamos aos estudantes que vieram reivindicar sua causa, ouvimos e entendemos seu protesto. Acreditamos na importância do letramento racial dentro das Atléticas e entendemos que ele é fundamental para ampliar a consciência, a responsabilidade e o respeito em todas as nossas ações”
“Reconhecemos a relevância histórica e cultural dos movimentos indígenas no Brasil e reforçamos nosso apoio às lutas das comunidades tradicionais, assim como nosso compromisso pela inclusão e pertencimento dentro do esporte universitário. Estamos abertos ao diálogo e ao aprendizado, sempre”, conclui a nota.
A reportagem tentou contato com a Atlética da Unifesp, na noite desta sexta-feira, sem sucesso até a publicação desta reportagem.