Cientistas Também Amam – E Isso Não É Piegas!
Roberto Lobo* 19 de dezembro de 2025
Minha mulher, Maria Beatriz — a mulher que vim a amar imensamente e que é parte essencial da minha vida — tem insistido para que eu escreva sobre o amor.
Por que ela acha isso importante? Porque, segundo ela — e creio que com razão — os homens são tímidos ao falar do amor. Acham pouco viril. Têm na cabeça a imagem do homem caçador. Ou melhor, tinham, porque, na geração atual, nem homens de verdade parece que estamos criando.
A ideia do homem caçador muitas vezes foi incutida na cabeça dos meninos pelas próprias mães, o que põe em risco seu futuro casamento e a felicidade de sua esposa. Com essa influência, a mãe do jovem já está, também, vingando-se antecipadamente — e por ciúmes — de sua futura nora.
Nosso caso é o de um amor recíproco, explícito e dedicado, em que cada um deseja fazer o outro o mais feliz possível, buscando o entendimento e se alinhando para enfrentar os desafios que a vida apresenta continuamente.
Não é que não possamos divergir sobre vários assuntos, mas discutimos respeitosamente nossas divergências, sempre acreditando que o parceiro é sincero em suas argumentações e procurando uma convergência, como na dialética de Hegel: da tese segue-se a antítese e, posteriormente, a síntese, que une as qualidades da argumentação em uma visão nova e mais profunda da realidade.
Admiro na Beatriz, entre outras coisas, sua capacidade de entender os problemas alheios e, com coragem, ajudar os interlocutores a encontrarem caminhos para resolvê-los ou mitigá-los.
Quando começamos nosso romance, eu já lhe dizia, com toda a sinceridade, que ela preenchia todas as minhas valências afetivas e de admiração. Sei que essa entrega não é comum e é por isso que ela acha que eu, depois de tantas experiências profissionais e pessoais, faria um bem em dividir essa parte de nossas vidas com outras pessoas.
Ela, por outro lado, se refere à nossa união como um méson, formado por dois quarks inseparáveis, aproveitando a metáfora de uma palestra que dei na Sociedade Brasileira de Psicanálise sobre “O Papel do Observador na Física Moderna”.
A energia necessária para a separação dos quarks é tão grande que, se fosse possível efetuar essa separação, ela resultaria na formação de novos mésons, pela enorme energia envolvida e pela relação de Einstein entre massa e energia.
Ela aprendeu esse conceito na palestra e teve a coragem de se levantar na plateia para dizer: “Roberto, nós somos um méson!”. Em suma, éramos e somos inseparáveis, de verdade.
Essa parceria sem limites, esse desejo de ver o outro feliz, esse eventual sacrifício pelo bem do outro — que não machuca — une o casal como um verdadeiro méson.
Olho para Beatriz e a vejo como uma flor que alegra minha vida — por isso a chamo carinhosamente de My Flower. Ou Minha Linda.
Para as pessoas comuns, o cientista é visto como um ser absolutamente racional, com total controle sobre suas emoções — ou pior, como alguém sem emoções.
Quando ouço essas afirmações, costumo retrucar que não ser racional é ser irracional, e não frio ou calculista. Cientistas de grande calibre tiveram romances intensos e profundos, como Marie e Pierre Curie, Albert Einstein e Mileva Mari?, Carl Sagan e Ann Druyan, por exemplo. Não invejo nenhum deles.
Confio inteiramente em seu amor e em seu bom senso. Tenho essa demonstração de amor, carinho e competência quando ela cuida — e sempre cuidou — de mim, fora e dentro dos hospitais, quando estive muito doente.
Salvou minha vida no hospital mais de uma vez. Acompanha meus remédios diariamente até hoje — tomo mais de dez por dia. Aliás, tenho um lema: “Depois dos 60 anos, incorpora-se mais um comprimido à rotina diária a cada cinco anos”.
Ela é minha enfermeira e consultora de saúde (não digo médica para não a acusarem de charlatanismo, mas confio nela tanto quanto nos meus médicos).
Ela me encanta com sua disposição de amar meus filhos do primeiro casamento e meus netos. Hoje, eles ligam diretamente para ela para ouvir conselhos e sugestões sobre qualquer assunto que os preocupe no momento. Sei que serão bem atendidos, com paciência e bom senso. Eles se dão muito bem com Beatriz e confiam muito nela.
Penso sempre na felicidade presente e futura de Beatriz, e a única coisa que me deprime em relação à minha morte é não poder mais conviver com meu amor e não poder protegê-la como gostaria.
Por outro lado, sei que ela é forte e pensará em mim para ajudá-la a enfrentar os desafios que ainda terá de enfrentar. Mas imaginá-la sozinha nesta vida me dá um frio no estômago.
Até hoje, refugiamos-nos em algum hotel nas montanhas ou na praia para curtir ficarmos juntos em locais agradáveis e diferentes. Não precisamos de mais ninguém: nos completamos e nos bastamos. Claro que temos amigos para nos acompanhar, que são sempre bem-vindos quando conciliamos compromissos, mas o mundo externo não altera nosso desejo de fazermos tudo juntos — tudo mesmo!
Trabalhamos juntos há três décadas. Já nos sentamos, por anos, na mesma sala, que era nosso escritório conjunto. Atuamos sempre juntos em consultorias para dezenas de instituições e centenas de dirigentes universitários.
Nunca tivemos uma divergência séria, algo que não pudesse ser resolvido com o aprofundamento do debate e a busca de soluções. Não competimos entre nós. Esse é um dos nossos segredos.
Revemos nossos textos ou gravações sempre com espírito construtivo, embora explicitemos dúvidas e sugestões. É uma parceria completa.
Paro por aqui, porque, como dizia Feynman — gênio da Física e Prêmio Nobel de 1965 –, se fôssemos perguntar a origem de cada fenômeno físico, seria preciso desenrolar um carretel infinito de causas e efeitos, e não se chegaria ao final.
Desde o princípio confiei nela. Na época, nem sabia bem por quê — agora saberia! Ela nunca me decepcionou. E ela diz que nem eu a ela!
E o nosso amor é, nas nossas opiniões, a coisa mais importante de nossas vidas!
*Roberto Lobo é PhD em Física e Doutor Honoris Causa pela Purdue University. Foi reitor da USP e é presidente do Instituto Lobo.