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Estudante que ‘antecipou’ partes do Enem pagava universitários por questões memorizadas; entenda

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Edcley Teixeira está no centro de uma polêmica após “prever” questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), nas redes sociais, dias antes do vestibular. Ele, que vende monitorias de estudos, mostrou em uma transmissão itens muito semelhantes aos que caíram na prova. Após as denúncias, o Ministério da Educação (MEC) anulou três itens em que foram identificadas similaridades.

Teixeira diz que consegue antecipar os conteúdos com base em edições antigas do Enem e em outras provas usadas pelo MEC para testar o nível de dificuldades de perguntas que serão incluídas no exame nacional.

Publicações e conversas nas redes sociais obtidas pelo Estadão mostram que Teixeira teria prometido pagar colaboradores que o ajudassem a memorizar trechos de exames usados como pré-teste do Enem – R$ 10 por questão decorada. Segundo as mensagens, ele também custeava vans para levar alunos até o local de aplicação (leia mais abaixo).

A reportagem procurou Teixeira, mas não obteve retorno. Até agora, não há indícios de vazamento do Enem, mas a suspeita é investigada pela Polícia Federal.

O Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep), órgão do MEC responsável pelo Enem, diz que estudantes podem ter contato com questões em avaliações usadas como pré-teste (leia mais abaixo). O Enem, que dá acesso a universidades públicas e privadas, foi feito por cerca de 5 milhões de candidatos.

Edcley Teixeira vende monitorias para o Enem nas redes sociais
Edcley Teixeira vende monitorias para o Enem nas redes sociais

Um dos caminhos para descobrir potenciais questões do Enem era a prova Prêmio Talento Universitário Capes, aplicada pelo MEC desde 2019. Esse exame pode ser feito por estudantes no 1º ano da faculdade, de qualquer área, em instituições públicas, privadas ou militares.

São 80 questões de conhecimentos gerais. Os participantes não têm obrigatoriedade de sigilo nem saem com o caderno de questões.

Como esse exame é feito por universitários calouros, perfil parecido com o dos candidatos do Enem, a prova Capes era usada como um dos pré-testes do Enem. Com base na taxa de acerto dos participantes, o MEC entende se o item tem nível fácil, médio ou difícil e equilibra o grau de exigência do exame. Segundo especialistas, isso é necessário para que o Enem fique bem calibrado.

Em um grupo no WhatsApp, ao qual o Estadão teve acesso, Teixeira relata ter gasto “2k (R$ 2 mil) de gratidão aos alunos que me ajudaram a construir esse projeto”, além de R$ 2 mil com van para transporte dos participantes da prova, R$ 2 mil para a resolução das questões, dentre outras despesas. A mensagem é de 30 de maio deste ano, cinco dias após a prova Capes.

Mensagens mostram detalhamento de gastos para fazer prova do MEC e identificar potenciais questões do Enem
Mensagens mostram detalhamento de gastos para fazer prova do MEC e identificar potenciais questões do Enem

A fala de Teixeira no grupo tinha o objetivo de justificar a cobrança de R$ 500 por aluno para disponibilizar o acesso a 500 questões que teriam caído no exame — que ele próprio já chamava de “pré-teste” para o Enem.

Na transmissão cinco dias antes do Enem, Teixeira mostrou ao menos cinco questões bastante parecidas com o exame nacional, aplicado no domingo, 16. Além de vender monitorias para o exame, ele é estudante de Medicina em Sobral, no Ceará.

Em outra mensagem, que teria sido enviada por Teixeira ao grupo, ele promete pagar R$ 10 por questão, que poderiam ser descritas até por meio de áudio logo após a realização da prova Prêmio Capes.

“Acho que vcs ainda não tem (sic) dimensão do que significa Prêmio Capes. É como se vc encontrassem a prova do Enem jogada no chão na véspera da prova”, afirmou em outra mensagem, de 3 de março. Diante da polêmica, o MEC deve acabar com essa prova, segundo o Estadão apurou.

Em mensagens, Edcley Teixeira promete R$ 10 por questão memorizada em prova que serve de pré-teste para o Enem; reportagem não conseguiu contato com o professor
Em mensagens, Edcley Teixeira promete R$ 10 por questão memorizada em prova que serve de pré-teste para o Enem; reportagem não conseguiu contato com o professor

Em documento enviado no grupo, em que oferece o serviço de pré-testes, Edcley defende que “graças à confiança e colaboração de ex-alunos que participaram de pré-testes do ENEM e do Prêmio CAPES, tive acesso a um panorama de questões que a maioria dos candidatos jamais verá”.

Em print compartilhado por Edcley em 30 de maio, ele mostra outro grupo, com universitários que prestavam o Prêmio Capes. “Permaneçam aqui pq se tiver o prêmio do Estudo Diferencial de Itens (outra prova do Inep) eu chamo uma nova Van… vou enviar, ainda hoje, o incentivo financeiro para os que me inspiram com questões… vcs são incríveis…”, escreve ele no grupo “Prêmio Capes 2025″. “Eu gosto de me inspirar em todo tipo de prova”, completa.

Print de conversa de WhatsApp encaminhada pelo estudante de medicina Edcley Teixeira em grupo com alunos do curso de mentoria que antecipou questões que cairiam no Exame Nacional do Ensino Médio.
Print de conversa de WhatsApp encaminhada pelo estudante de medicina Edcley Teixeira em grupo com alunos do curso de mentoria que antecipou questões que cairiam no Exame Nacional do Ensino Médio.

Em outro print compartilhado por Teixeira com seus alunos, ele mostra a mensagem de um dos participantes do Prêmio Capes. “Consegui decorar cerca de 43 questoes. Acabei agora de escrever elas pra n esquecer”, diz o estudante. Em print de conversa com outro universitário, ele mostra uma questão elaborada.

Print enviado em 25 de maio de 2025 por Edcley em grupo com seus alunos. Essa foi a data do exame Prêmio Capes.
Print enviado em 25 de maio de 2025 por Edcley em grupo com seus alunos. Essa foi a data do exame Prêmio Capes.

Um áudio que circulou nas redes sociais traz o relato de um universitário, não identificado, que teria estudado na mesma faculdade de Edcley. “Ele estava oferecendo, se não me engano, era dez ou quinze reais para quem era da faculdade e fizesse o Prêmio Capes e decorasse as questões e falasse para ele. Dez ou quinze contos por questão”, afirma a gravação.

Conversa de Edcley com universitário que prestou Prêmio Capes.
Conversa de Edcley com universitário que prestou Prêmio Capes.

Inep diz ter protocolos de segurança

Em nota, o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais, órgão do MEC responsável pelo Enem, afirmou que o exame “utiliza a Teoria da Resposta ao Item (TRI) para apuração de seus resultados”, metodologia que “demanda que os itens sejam pré-testados”, diz.

Os estudantes que participam de pré-testes têm contato com itens, informa o órgão, que podem vir a compor o Enem em alguma edição Segundo o Inep, “os processos envolvem rigorosos protocolos de segurança, que foram cumpridos em todas as etapas do exame”.

Curso é vendido por mais de R$ 1,3 mil

Nesta quarta-feira, 19, o curso “Monitoria Edcley” foi oferecido no perfil de Instagram do estudante de Medicina por R$ 1.320.

O estudante João (nome fictício), de 20 anos, afirmou ao Estadão ter pago R$ 990 pelos 11 meses de curso de Edcley neste ano. Ele assinou a mentoria no ano passado para prestar o Enem deste ano.

“Ele postava print de aluno falando que teve não sei quantas questões iguais no primeiro dia na prova, que ele salvou o aluno no primeiro dia. No final teve duas que eram parecidas, e uma dessa eu ainda errei, porque era parecida, mas a resposta era totalmente diferente”, conta.

Na oferta do curso enviada a João, a Monitoria Edcley é anunciada como “verdadeiramente única no Brasil por oferecer questões inéditas e desconhecidas do Enem, com base em conteúdo exclusivo” obtido, principalmente, por meio do pré-teste.

“Essas questões são parte de um conteúdo valioso e não disponível publicamente, o que nos coloca em uma posição singular para preparar nossos alunos de maneira muito mais próxima ao que enfrentarão no exame oficial”, diz o documento.

Entre os serviços oferecidos aos alunos, Edcley compartilhava logins e usuários de plataformas de outras empresas (como Bernoulli, Chapéu do Mago, Materiais Plural) para que a mesma conta fosse usada por todos os alunos, conforme as mensagens.

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