O fechamento de uma agência de turismo de Franca, no interior de São Paulo, deixou mais de 50 estudantes de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) com um prejuízo de cerca de R$ 170 mil. As vítimas são alunos do 3.º ano da graduação, que contrataram um pacote com a empresa Kairós Viagens & Peregrinações para um passeio à Bahia em dezembro.
Entenda o que se sabe sobre o caso.
Por que os estudantes planejavam a viagem para a Bahia?
O passeio é uma tradição da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) e é organizado pelos estudantes como forma de celebrar o encerramento do Ciclo Básico — cursado nos três primeiros anos da graduação — e a transição para o Ciclo Clínico, que se inicia no quarto ano. A viagem já é realizada há anos e acontece sempre no mês de dezembro.

Quem era responsável pela viagem?
A viagem estava sendo planejada desde 2023, no primeiro ano da graduação. A agência escolhida para organizar o evento, comprar as passagens e reservar o hotel foi a Kairós Viagens & Peregrinações.
Em julho, porém, a empresa anunciou nas redes sociais que suas atividades estavam suspensas, sem dar detalhes. Mesmo depois da postagem, o dono da Kairós, Ricardo Ribeiro Rodrigues, garantiu aos estudantes que a viagem não corria riscos de ser cancelada e que compraria as passagens no dia 8 de agosto.
Um dia antes da data prevista, ele procurou os alunos para informar que não conseguiria mais realizar o passeio.
Por que a Kairós cancelou o passeio?
Em mensagens trocadas entre o dono da Kairós e os estudantes, obtidas pelo Estadão, Ricardo Rodrigues afirmou que decidiu cancelar a viagem devido aos pedidos de ressarcimento.
“A única forma que tínhamos de entregar a viagem era cancelando todos os demais cartões e depois passá-los diretamente na companhia aérea e no hotel”, disse o empresário. “Contudo, diante da insegurança e desconfiança do grupo em relação à empresa, não me restou alternativa senão cancelar totalmente a viagem”, acrescentou.
A assessoria jurídica da Kairós não detalhou a situação financeira ou administrativa da agência, mas afirmou que o problema decorre de “falha na prestação de serviço por parte de terceiros”.
Quanto dinheiro a agência deve aos estudantes?
Ao todo, 53 estudantes aderiram à viagem, cujo pacote custou cerca de R$ 5 mil por pessoa, totalizando aproximadamente R$ 170 mil. Alguns alunos pagaram à vista, enquanto outros optaram por parcelar. Os que parcelaram conseguiram cancelar e reaver parte dos valores pelo cartão de crédito.
Segundo a empresa, R$ 50 mil já foram devolvidos, restando uma dívida de cerca de R$ 120 mil.
“Os valores pagos pelos alunos somam aproximadamente R$ 170 mil, dos quais cerca de R$ 50 mil já foram devolvidos, relativos aos pagamentos efetuados por cartão de crédito”, informou a agência, via assessoria jurídica.
Como a empresa pretende pagar o restante do dinheiro?
A Kairós afirma que os pedidos de estorno dos pagamentos realizados por cartão de crédito estão sendo aceitos e serão creditados nas próximas faturas dos clientes. A empresa reforça que busca soluções.
“A situação não se configura como ato de má-fé ou negligência, mas sim como uma crise operacional de grande magnitude, resultante de eventos externos e que está sendo tratada com máxima seriedade e transparência”, afirmou a empresa.
“É fundamental ressaltar que o presente cenário se configura como ilícito civil, decorrente de falha na prestação de serviço por terceiros, e não como estelionato ou ‘golpe’”, acrescentou a assessoria jurídica da Kairós.
Qual foi a reação dos estudantes?
Alguns alunos registraram boletins de ocorrência e estão reunindo provas para levar o caso à Justiça, informou uma das estudantes ao Estadão.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP-SP) informou que duas ocorrências foram registradas como estelionato, sendo uma delas investigada pelo 3.° Distrito Policial do município. “A outra, registrada no 6.° DP, aguarda a representação criminal da vítima, por se tratar de crime de ação condicionada. O delegado permanece à disposição”, afirmou a nota.