O Ministério da Educação (MEC) vai lançar nesta terça-feira, 2, um novo índice que estabelece o que uma criança precisa saber para ter uma aprendizagem adequada em Matemática, no 2º ano, no 5º ano e no 9º ano do ensino fundamental. O governo vai ainda estabelecer metas de desempenho na disciplina que devem ser cumpridas pelas redes de ensino municipais, estaduais e pelo País na próxima década.
Segundo o Estadão apurou, para ser considerado proficiente em Matemática, o aluno deverá ter atingido pelo menos 750 pontos na escala do Sistema Nacional da Avaliação Básica (Saeb). Isso significa uma criança de 7 anos (2º ano fundamental) deverá saber adição, subtração, multiplicação até 5, noções de horas e de moedas, identificar algumas figuras geométricas e representar os dados de uma pesquisa em um gráfico de colunas simples.
O novo indicador é semelhante ao que o MEC lançou em 2023 para alfabetização. O Indicador Criança Alfabetizada (ICA) determina que um estudante pode ser considerado alfabetizado se atingir 743 pontos.
Dessa forma, os dados mais recentes mostraram que o Brasil não conseguiu atingir a meta de crianças de 7 anos que deveriam estar alfabetizadas em 2024, que era de 60%. Os resultados mostraram que só 59,2% sabem ler e escrever no País.
O MEC não realizou uma prova nacional e, sim, usou resultados de exames estaduais – o mesmo vai ocorrer com o índice de aprendizagem na Matemática. A parametrização dos dados na alfabetização foi criticada por alguns especialistas que afirmam que os exames são diferentes em cada Estado.

A diferença é que o novo índice terá indicadores e metas não só para o 2º ano, mas também para o 5º, o 9º e para o ensino médio – este último só deve ser divulgado em 2026, segundo o diretor de Políticas e Diretrizes da Educação Integral Básica do MEC, Alexsandro Santos. Ele participou na semana passada do evento Gente que Soma, realizado pelo Instituto Reúna, que discutiu a aprendizagem da Matemática, em São Paulo.
Santos afirmou que haverá também uma descrição clara de quais habilidades são esperadas em cada etapa. Segundo ele, o índice faz parte do Compromisso Nacional Toda Matemática, lançado este ano pelo governo federal, que pretende atuar na governança, na formação de professores e nos currículos para melhorar o ensino da área no Brasil.
O novo indicador foi elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão do MEC, e deve ser apresentado nesta terça no Rio de Janeiro, no Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa). A intenção do governo federal também é abrir as adesões de Estados e municípios ao Compromisso Toda Matemática.
“A aprendizagem matemática no País hoje é um privilégio, e não um direito”, disse Santos. “Precisamos admitir que o Brasil está em um patamar muito ruim para garantia do direito à Matemática e não podemos ter medo de buscar novas alternativas.”
As avaliações já existentes mostram que 48,8% dos alunos do 5º ano têm aprendizagem adequada em Matemática – em Língua Portuguesa, são 60%. Já no 9ª ano cai para 21% e chega a 8% no 3ª ano do ensino médio, quando os alunos concluem a escola. Crianças e adolescentes que estão entra as famílias mais vulneráveis têm os resultados mais baixos em Matemática.
Especialistas afirmam que há um estigma e diversas crenças – não verdadeiras – em relação à disciplina: muitos acreditam que só algumas pessoas conseguem ser boas em Matemática. Isso é motivado por preconceitos de raça, gênero e sociais, mas muito pela forma como a disciplina é ensinada nas escolas, de maneira abstrata e pouco relacionada à vida dos alunos.
O evento em São Paulo discutiu pesquisas que mostram que uma boa aprendizagem em Matemática desde cedo está associada a melhores empregos e salários no futuro. E ainda promove mudanças no funcionamento cerebral e na função cognitiva.
Cursos de Pedagogia e mesmo os de Licenciatura, que formam professores, também pouco ensinam sobre a educação matemática. “Professores dizem muitas vezes que escolheram Pedagogia justamente porque não gostam de Matemática. E os licenciados na área não querem trabalhar com adolescentes de 6.º a 9º ano porque acham que a Matemática é menos importante, muito básica, preferem o ensino médio”, afirmou o professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Daniel de Oliveira Lima, durante o evento.
Ele trabalha com formação de docentes para a educação matemática para tentar mudar esse cenário. “O professor não pode partir da lógica de que, se o aluno não aprendeu, é porque ele não consegue. Muitas vezes, é porque eu ainda não encontrei a estratégia certa para alcançá-lo.”