Vídeo denúncia do Felca, projeto de lei aprovado em tempo recorde, canais apagados pelo próprio YouTube, tudo para proteger crianças e adolescentes nos ambientes digitais. Mas como será que os jovens estão vendo essa movimentação das últimas semanas?
Não há ainda uma pesquisa tão rápida de opinião que possa esclarecer a repercussão entre eles das medidas recentes e comemoradas pelos adultos no Brasil. Nas redes sociais, sem rigor algum estatístico, é possível notar grande apoio daqueles que já estavam cansados de denunciar conteúdos impróprios.
Mas também há muitos fãs indignados com o banimento de influenciadores ou conteúdos. Como o Estadão mostrou, o YouTube apagou recentemente canais inteiros, como os dos influenciadores João Caetano, Taspio e do casal Paty e Dedé – juntos, eles somam quase 30 milhões de seguidores.
Todos ganhavam muito dinheiro filmando e incentivando historinhas vividas por crianças e adolescentes em situações humilhantes, violentas ou com conotação sexual – espécies de realities de abuso de menores. E o público alvo era também justamente crianças e adolescentes.

No rol gigante de desafios que as novas tecnologias impõem às gerações de mães e pais atualmente, está também o fato de que os filhos muitas vezes sabem mais sobre elas do que os adultos. Isso não só coloca a parentalidade numa situação desconfortável e vulnerável, como ajuda a fortalecer uma atitude reativa e questionadora, já comum na adolescência.
Jovens então passam a ver a proteção digital como exagero. Denúncias sérias viram “perseguição” contra algo pretensamente engraçado e que só eles entendem a graça.
Uma pesquisa sobre os perfis secretos que os adolescentes usam nas redes sociais, os chamados dix, dá uma ideia disso. A Orbit, uma startup que mapeia o que se diz nas redes sociais, identificou que os jovens justificam essas contas principalmente porque “os adultos veem problemas onde não tem”.
Esse tipo de perfil no Instagram ou TikTok não é aberto para familiares – a pesquisa mostra que 76% dos pais sequer sabem que elas existem – e servem para que o adolescente se sinta mais livre para postar o que quiser, explicam eles próprios. Muitas vezes, os jovens têm um outro perfil em que aceitam os pais como seguidores e não publicam quase nada.
Na pesquisa, eles falam ainda que usam o dix para “postar conteúdos de humor”, sem ficar claro o que consideram engraçado. Sabe-se, no entanto, que essas contas são usadas também para postagens impróprias, bullying, assédio – fora o fato de que os pais não têm controle a quem os filhos dão acesso privado.
O projeto de lei aprovado no Congresso semana passada obriga que contas de menores sejam atreladas à de seus responsáveis nas redes e que as plataformas verifiquem, de fato, a idade dos usuários.
Talvez os dix deixem de existir dessa forma. Mas é só mais uma batalha desses tempos difíceis em que a resposta para tentar minimizar riscos passa muito pelo vínculo entre pais e filhos. Entender do que eles gostam, ouvir genuinamente seus pontos de vista, acolher a impulsividade e a vontade de correr riscos típicas do cérebro adolescente, mostrar que se importa. E estar presente mesmo quando eles respondem de forma monossilábica.
Eles não acreditam, mas sem os adultos, os adolescentes, sim, podem se perder. Pais conscientes, presentes e observadores ajudam a cultivar valores éticos e morais que podem afastá-los de influenciadores sem escrúpulos e outras mazelas da vida digital.
Mesmo que novas leis e denúncias não impeçam novos absurdos, o bando de seguidores pode se reduzir no futuro. E os benefícios de uma geração que entende os direitos à proteção de crianças e adolescentes serão enormes para toda a sociedade.