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Irmão de Bolsonaro é aposta do PL para evitar queda da sigla na bancada federal paulista em 2026

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O maior colégio eleitoral do País virou palco de uma aposta arriscada do PL. Sem os puxadores de votos de 2022, o partido entregou a Renato Bolsonaro, irmão mais novo do ex-presidente Jair Bolsonaro, a tarefa de manter viva a força da legenda no Estado de São Paulo. O histórico dele, porém, joga contra: das oito eleições que disputou, Renato venceu apenas uma – para vereador em Praia Grande, quase três décadas atrás.

Para não somar mais uma derrota ao currículo do empresário, e correr o risco de encolher sua bancada na Câmara, o partido decidiu antecipar a pré-campanha de Renato. A sigla escalou um marqueteiro exclusivo para cuidar de sua imagem, colocou Renato para percorrer o interior paulista e reservou para ele o número 2222, antes usado pelo filho do ex-presidente Eduardo Bolsonaro.

O pré-candidato a deputado federal Renato Bolsonaro e o presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto, em manifestação na Avenida Paulista em 7 de Setembro.
O pré-candidato a deputado federal Renato Bolsonaro e o presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto, em manifestação na Avenida Paulista em 7 de Setembro.

A aposta em Renato, descrito por bolsonaristas como alguém mais sereno que o irmão, foi costurada pelo próprio ex-presidente, que mesmo em prisão domiciliar segue articulando os palanques nos estados.

A principal preocupação do bolsonarismo em São Paulo é encontrar alternativas para substituir os campeões de votos de 2022: Carla Zambelli, Eduardo Bolsonaro, Ricardo Salles e Guilherme Derrite. Os quatro somaram mais de 2,5 milhões de eleitores, mas não estarão nas urnas para concorrer à Câmara pelo PL em 2026.

Cada um ficará de fora da disputa por razões distintas. Zambelli está presa na Itália, para onde fugiu após ser condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a dez anos de prisão pela invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Eduardo Bolsonaro está nos Estados Unidos em autoexílio, e aliados consideram improvável sua volta ao País no curto prazo. Ricardo Salles deixou o PL e se filiou ao Novo para disputar o Senado, e Derrite, secretário de Segurança Pública do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), trocou o PL pelo PP também para concorrer ao Senado, embora não descarte disputar o Bandeirantes.

“Houve um esvaziamento de puxadores de votos, e o partido está preocupado com isso”, disse Renato ao Estadão. Ele conta que o convite para disputar partiu do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e do irmão Jair Bolsonaro. “Não podia recusar em um momento desses, porque o partido precisa de alguém que possa puxar votos.”

Costa Neto apresentou Renato à multidão na Avenida Paulista durante o 7 de Setembro. “Quero apresentar para vocês o Renato Bolsonaro, nosso pré-candidato. É vermelho que nem o Bolsonaro, só não é bonito como o Bolsonaro. Mas vai ser o 2222 da nossa chapa”, brincou o cacique, deixando claro que o integrante da família será a aposta do partido.

O PL espera que Renato some entre 500 mil e 700 mil votos – menos que os 946,2 mil conquistados por Carla Zambelli em 2022. Na ocasião, a bolsonarista foi a segunda mais votada do Estado, atrás apenas de Guilherme Boulos (PSOL). Além de Renato, a legenda deve apostar no vereador Lucas Pavanato como puxador de votos. O influenciador foi o mais votado para a Câmara Municipal paulistana no ano passado.

Lideranças do PL de São Paulo afirmam reservadamente que a sigla segue em busca de outros nomes competitivos, inclusive de fora da política. O Estadão apurou que o PL sondou o advogado e ex-comentarista da Jovem Pan Tiago Pavinatto, conhecido entre bolsonaristas por ser coautor de um projeto de anistia. Ele, no entanto, recusou.

Ainda assim, a expectativa é que o partido não repita o desempenho do quarteto de puxadores da última eleição e veja seus votos se fragmentarem entre várias candidaturas.

Para ampliar as chances de uma boa votação, o PL decidiu antecipar a pré-campanha de Renato Bolsonaro e investir desde já em sua candidatura.

Em julho, Renato pediu exoneração do cargo de chefe de gabinete na Prefeitura de Miracatu, no Vale do Ribeira, para se dedicar à corrida eleitoral e percorrer o Estado em articulações com políticos conservadores. O irmão mais novo de Bolsonaro tem à disposição um motorista, que também atua como assessor, e um profissional do marketing.

Em setembro, Renato divulgou uma série de vídeos produzidos por Duda Lima, publicitário responsável pelas campanhas de Jair Bolsonaro em 2022 e de Ricardo Nunes no ano passado. Em um deles, diz que não há prova que ligue Bolsonaro ao 8 de janeiro e ao plano Punhal Verde e Amarelo, que previa o assassinato de autoridades como o presidente Lula (PT). Agora, a comunicação de Renato está sob comando de Fernando Ivo Antunes, especialista em marketing político e comunicação eleitoral.

A estratégia é expandir sua presença fora da sua base eleitoral, priorizando cidades onde o PL já tem estrutura e o bolsonarismo é forte. O plano inclui dar mais entrevistas a veículos regionais e investir em conteúdo para as redes sociais.

Renato não esconde que sua principal força política é o vínculo familiar com Jair Bolsonaro. Segundo ele, até mesmo a semelhança física com o irmão é vista como uma vantagem eleitoral. Apesar disso, garante que tem opiniões próprias. “Existe o Jair Bolsonaro e existe o Renato Bolsonaro”, resume. “Ele tem um temperamento, eu tenho outro. Muitos dizem que sou mais calmo e ponderado, mas o ideal é o mesmo.”

Questionado sobre essa diferença, explica: “Às vezes tenho vontade de falar alguma coisa, mas seguro. O Jair já é faca Tramontina: dá o corte rápido dele. Essa é uma característica muito própria, e, de certo modo, saudável, porque ele é autêntico”.

A avaliação é compartilhada por bolsonaristas ouvidos pelo Estadão, que descrevem Renato como mais “bonachão” e menos estressado que o irmão. Segundo aliados, Renato é bem-visto no grupo e mantém boa relação com a família.

Na semana passada, Renato visitou Bolsonaro pela primeira vez desde a prisão domiciliar do ex-presidente. “Deu pra matar a saudade, jogar conversa fora e curtir um pouco a presença do meu irmão. Falamos da família, demos risada das nossas lembranças. Fiquei muito feliz em vê-lo. Ele está bem, firme e eu entendi algo muito importante”, disse.

Renato procurou seguir passos do irmão ex-presidente

Nove anos mais novo que o ex-presidente, Renato seguiu trajetória semelhante à do irmão. Ingressou nas Forças Armadas e chegou ao posto de capitão de Artilharia, além de ter feito o curso de paraquedista do Exército. Deixou a carreira militar em 1994, incentivado por Jair Bolsonaro, para disputar uma vaga de deputado federal, eleição que perdeu.

Dois anos depois, foi eleito vereador em Praia Grande. Desde então, disputou outras seis eleições para vereador ou prefeito em Praia Grande, Miracatu e Registro, sem êxito. Em 2024, quando concorreu à Prefeitura de Registro, declarou à Justiça Eleitoral um patrimônio de R$ 3,2 milhões.

Produtor rural e dono de lojas de móveis, Renato também atuou como assessor parlamentar do deputado estadual André do Prado (PL), atualmente presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Em 2016, ele foi exonerado após denúncias de que seria um funcionário fantasma.

Na época, disse que conciliava suas funções como assessor com a administração de suas lojas de móveis no Vale do Ribeira. “Na assembleia, eu comparecia quase todas as semanas e precisava assinar ponto, tudo registrado. Foi feita uma denúncia, e acabei envolvido no inquérito por dois anos. No final, o próprio Ministério Público decidiu arquivar”, conta.

Segundo Renato, o arquivamento se deu porque sua defesa conseguiu comprovar, por meio de documentos, que ele realmente exercia suas atividades legislativas. “Esse episódio marcou minha vida pública. Fui vítima de desinformação e fake news”, acrescenta.

O inquérito contra Renato Bolsonaro foi arquivado em fevereiro de 2018. Na decisão, o Ministério Público afirmou que as investigações não encontraram provas de que ele atuasse como funcionário fantasma.

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