A crise na relação entre o Palácio do Planalto e o Senado tem potencial de respingar também no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Presidida interinamente pelo conselheiro Gustavo Augusto Freitas de Lima, a autarquia também pode entrar na lista de indicações que o governo Lula articula com senadores em troca da aprovação do advogado-geral da União,Jorge Messias, para uma cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF).
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) faz campanha contra Messias, que precisa passar por sabatina na Comissão de Constituiçãoe Justiça (CCJ) da Casa e, depois, pelo crivo do plenário. A fatura do Centrão para o Planalto ficou mais cara e, como mostrou o Estadão, aliados de Alcolumbre pedem agora não só a presidência como a superintendência-geral do Cade, além de outros cargos federais.
A sabatina de Messias no Senado deve ser realizada em fevereiro de 2026. Na presidência interina desde meados de julho, Gustavo Augusto encerra o mandato de conselheiro em abril do ano que vem. Ele pode ser indicado à presidência ou à superintendência-geral do Cade, mas, em ambos os casos, é exigida aprovação prévia do Senado.

Na saída de Augusto, quem deverá assumir a cadeira de presidente-tampão é o conselheiro Victor Fernandes, por ser o integrante com mais tempo de casa. O mandato de Fernandes, no entanto, também está próximo de terminar – em junho. Se não houver um presidente titular até lá, a autarquia poderá ter um terceiro presidente interino em menos de um ano – o conselheiro Diogo Thomson.
Outro mandato próximo de se encerrar é o do superintendente-geral Alexandre Barreto, que termina em junho. O papel da Superintendência-Geral (SG) do Cade é de investigação e instrução dos casos. Em algumas situações, a decisão da SG em um ato de concentração pode ser final, quando a área recomenda a aprovação sem restrições, e não há avocação por um dos conselheiros – caso haja discordância da análise). Barreto ainda pode ser reconduzido ao cargo por mais dois anos.
O Cade é composto por sete integrantes – o presidente e seis conselheiros– e exige um quórum mínimo de quatro pessoas para funcionamento. Atualmente, há uma vaga aberta.
O nome que vinha circulando com mais força entre advogados e economistas que acompanham o Cade era o do conselheiro Victor Fernandes. Disputas recentes do Congresso com o Judiciário, no entanto, elevaram a temperatura e senadores passaram a apresentar maior resistência a nomes ligados ao STF.
A avaliação é de que Fernandes, ex-chefe de gabinete do decano da Corte, Gilmar Mendes, continua na disputa, mas com menos fôlego.
Há uma percepção interna de que o Senado deverá preferir alguém mais neutro, sem ligações diretas nem com o Executivo nem com o Judiciário.
Nesse cenário, o conselheiro Carlos Jacques, que é servidor de carreira do Senado, ganhou visibilidade nas últimas semanas. Em um contexto no qual o governo precisa agradar à Casa, o nome de Jacques – que foi consultor do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) – se fortalece.
O diretor de programa da Secretaria de Reformas Econômicas, Alexandre Rebêlo Ferreira, assessor do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também foi citado para o cargo. Outro nome mencionado foi o da secretária de Direitos Digitais do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Lilian Cintra.
Ferreira foi contemporâneo de Frederico Haddad, filho do titular da Fazenda, na Universidade de São Paulo (USP). O advogado trabalhou entre 2015 e 2016 na Prefeitura de São Paulo, durante a gestão do petista. Já Cintra é próxima do atual titular da Justiça e ex-ministro do STF Ricardo Lewandowski, de quem foi assessora especial tanto na pasta quanto na Corte.
Os dois auxiliares dos ministros têm em comum o fato de trabalharem com aspectos concorrenciais das plataformas digitais.
Nos bastidores, porém, há uma avaliação de que esse perfil enfrentaria grande resistência no Senado, tendo em vista todas as desconfianças em torno da regulamentação das big techs pelo Congresso.