O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) completa, nesta quinta-feira, 4, um mês em prisão domiciliar. A data coincide com a semana em que o Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou o julgamento da ação penal sobre a trama golpista de 8 de janeiro.
Durante o período, o Supremo recebeu ao menos 35 pedidos de visita ao ex-presidente, entre familiares, médicos, aliados políticos e até um grupo de oração. O relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, autorizou 32 deles até a última terça-feira, 2.
Aliados relataram capacidade limitada de articulação política de Bolsonaro no período e preocupação com o estado de saúde do ex-presidente. Para eles, o quadro clínico pode servir de argumento para que uma eventual prisão seja mantida em regime domiciliar.

Os primeiros a encontrá-lo foram o senador Ciro Nogueira (PP) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Na sequência, Bolsonaro recebeu outras lideranças, como o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, o líder da oposição na Câmara, Luciano Zucco (PL-RS), o senador Rogério Marinho (PL-RN) e o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL).
Apesar da movimentação, Bolsonaro não havia conseguido avançar em articulações políticas sobre a eleição de 2026. As visitas se recusavam a tratar do tema em consideração à situação do ex-presidente. Seu único pedido ao presidente do PL foi a candidatura de seu filho Carlos Bolsonaro ao Senado por Santa Catarina.
Às vésperas do julgamento, porém, aliados conseguiram destravar outro assunto: as negociações para pautar o tema da anistia na Câmara. Segundo relatos, a visita de Lira, na véspera da primeira sessão, teve como objetivo discutir a proposta.
Na terça-feira, 2, em meio ao primeiro dia de julgamento na Primeira Turma do STF, Valdemar se reuniu com os presidentes do PP, Ciro Nogueira, e do União Brasil, Antonio de Rueda, para tratar da anistia. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que assumiu a função de principal interlocutor do pai, conversou com Tarcísio, que foi a Brasília para uma reunião sobre a pauta.
Em entrevista à GloboNews na quarta-feira, 3, Valdemar afirmou que as articulações pela anistia estão “avançadas” e que “há entendimento entre todos os partidos para que a anistia seja votada”, destacando ainda a atuação do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).
Ao longo do mês, o ex-presidente também recebeu visitas de outros aliados políticos como os deputados federais Altineu Côrtes (PL-RJ), Junio Amaral (PL-MG), Joaquim Passarinho (PL-PA), a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) e a vice-governadora do DF, Celina Leão (PP). O deputado estadual Tomé Abduch (Republicanos-SP) e o vice-prefeito de São Paulo, Ricardo Mello Araújo (PL) também visitaram Bolsonaro em sua casa num condomínio em Brasília.
A prisão domiciliar foi determinada em processo paralelo ao do golpe, no qual é investigado por tentativa de coagir o Supremo em articulação com seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), e autoridades americanas.
Saúde debilitada e desânimo
Aliados relataram preocupação com o estado de saúde do ex-presidente, marcado por episódios de refluxo, soluços e náusea. Bolsonaro já havia passado por uma cirurgia no intestino em abril, a sétima desde a facada em 2018. Em 16 de agosto, foi levado ao hospital DF Star para exames, após autorização de Moraes.
O deputado federal Marcelo Moraes (PL-RS), primeiro deputado a protocolar um pedido de visita, disse que Bolsonaro apresentava forte mal-estar, enquanto o também deputado Luciano Zucco (PL-RS) afirmou que a saúde do ex-presidente estava “debilitada”. Segundo o senador Ciro Nogueira, que visitou o ex-presidente um dia após a determinação de prisão domiciliar, Bolsonaro estava “triste”, mas ainda “acreditava no País”.
Outros aliados, no entanto, relataram desânimo. O vice-prefeito de São Paulo, Ricardo Mello Araújo (PL), contou que, durante a visita, Bolsonaro afirmou que, aos 70 anos, já “viveu o suficiente” e que, como a expectativa é de que seria condenado, ele iria “morrer na cadeia”. O ex-presidente é acusado de cinco crimes, cujas penas somadas podem resultar na condenação a 43 anos de prisão.
O próprio filho Jair Renan descreveu nas redes o pai como “um senhor de 70 anos, cheio de problemas de saúde, todo remendado” e acusou a Justiça de tratá-lo “como criminoso de alta periculosidade”.
Bolsonaro acompanhou julgamento ao lado da família
Durante as sessões da Primeira Turma do STF, Bolsonaro acompanhou os trabalhos ao lado da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, e dos filhos Jair Renan Bolsonaro (PL-SC) e Carlos Bolsonaro (PL-RJ). O senador Flávio Bolsonaro, por sua vez, participou de uma sessão da Comissão de Segurança Pública no Senado.
Segundo seu advogado Celso Villardi, apesar de manifestar interesse em ir ao julgamento, o ex-presidente foi impossibilitado por problemas de saúde. No primeiro dia de julgamento, Bolsonaro chegou a aparecer rapidamente na porta de casa, quando o procurador-geral da República, Paulo Gonet, finalizava a acusação. “Estou acompanhando”, disse ao Estadão, antes de se recusar a comentar mais sobre como estava se sentindo.
A residência passou a ser vigiada pela Polícia Penal do Distrito Federal desde 26 de agosto, a pedido do ministro Alexandre de Moraes e sob recomendação da Polícia Federal. Veículos que entram e saem do condomínio são revistados. Michelle criticou a determinação, afirmando ser um desafio ter que enfrentar “humilhações” e “perseguição.
No último domingo, manifestantes com bandeiras do Brasil marcharam da Torre de TV até a casa de Bolsonaro. No dia seguinte, Carlos e Jair Renan se juntaram à vigília em frente ao condomínio, oraram com os simpatizantes e discursaram em defesa do pai, antes da primeira sessão.